A engenharia diagnóstica na desconstrução civil
A Engenharia Diagnóstica em Edificações, tradicionalmente, visa examinar e investigar os sistemas construtivos para diagnosticar suas patologias prediais, com foco nas recuperações e aprimoramentos da qualidade predial, mas com o crescimento da tendência de desconstrução, a disciplina também contribui nesse sentido. Sabendo-se que o impacto da construção civil no meio ambiente é enorme, pois as edificações consomem aproximadamente 50% da energia mundial (construção e manutenção), consoante dados da Associação de Estudos Geobiológicos da Espanha, na Jornada de Bioconstruccion (Madrid 1996) em trabalho de Sofia Bealing & Stefan e Philip Steadman, que indica outros 25% para a indústria e os demais 25% para o transporte, relevante o estudo diagnóstico da desconstrução. Estima-se que o percentual de resíduos da construção civil é de aproximadamente 35% de todo o resíduo produzido na atividade humana. E sabe-se que esse percentual tende a crescer com o envelhecimento de grande parte do parque de construções no mundo. O descuido com a manutenção predial, também contribui para o aumento dos resíduos, pois algumas edificações atingem estágio muito avançado de degradação precoce, impossibilitando sua recuperação e determinando a sua desconstrução. Mas, o que é a desconstrução? Qual é a diferença entre desconstrução e demolição? A demolição é o ato ou efeito de demolir, ou seja, deitar abaixo, desfazer, desmantelar, destruir, derrubar uma construção, como bem esclarece o “Aurélio”. Já a desconstrução é o ato de desconstruir, desfazer e que, de forma simplista, pode ser conceituada como a demolição sustentável, visando mitigar os danos ambientais dessa atividade, com a aplicação dos 4 R’s, representados pelo repensar, reduzir, reutilizar e reciclar. 4 R’s
Segundo os doutrinadores técnicos, do qual destacamos o Prof. Dr. Douglas Barreto da UFSCar, a desconstrução faz parte do Ciclo de Vida da Edificação (VUP), conforme mostra a ilustração abaixo, apresentada no I Workshop Avaliação de Desempenho na Prática, promovido pelo Instituto de Engenharia em outubro de 2014.
Ciclo de Vida da Edificação (VUP)
Evidentemente, toda desconstrução gera uma quantidade imensa de resíduos sólidos, sem embargo do gasto de energia e mão de obra para sua realização, causando relativo danos ambiental. Porém, quando bem planejada, a desconstrução reduz expressivamente esses danos, além de poder apresentar alguns resultados positivos de sustentabilidade, com a aplicação dos 4 rs., ou seja, o repensar, reduzir, reutilizar e reciclar. Segue exemplo de repensar. A edificação a ser desconstruída poderá ter alguma outra utilização nas condições em que se encontra ? Ser repensada, recebendo pequenos reparos ou reformas, para o prolongamento de sua vida útil? Seguem exemplos de redução e reutilização. A inspeção técnica da edificação a ser desconstruída poderá evidenciar boas condições físicas das fundações. Vamos tentar mantê-las para o próximo edifício a ser construído no local, reduzindo os serviços futuros? E as esquadrias, ainda funcionam com algum desempenho, poderão ser reutilizadas em outras edificações? E bom exemplo de reciclagem é aquele possível com as barras de aço e o entulho da estrutura de concreto a ser demolida, além daqueles com a fiação de cobre das instalações elétricas, os metais sanitários, e outros. A investigação diagnóstica da desconstrução, portanto, serve para se bem se elaborar o planejamento adequado, fornecendo informações técnicas relevantes nesse sentido, bem como para as análises das eventuais influências nas edificações vizinhas, a melhor utilização de telas de proteção para conter o pó e as formas mais apropriadas de transporte e destino dos resíduos. E a desconstrução também deve ser pensada na fase de projeto das novas edificações, visando o desenvolvimento de soluções construtivas que favoreçam a fácil aplicação prática das futuras desconstruções, além do maior prolongamento das suas vidas úteis, com materiais de menor impacto ambiental e maior potencialidade de reutilização. Assim sendo, como exposto nos exemplos acima, a Engenharia Diagnóstica em Edificações, através das suas ferramentas, principalmente as vistorias, inspeções e consultorias, - pode contribuir significativamente no bom planejamento da desconstrução, atividade fundamental no moderno foco da boa sustentabilidade na construção civil.